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Fellini. Tive que
aprender a gostar depois que um colega descarregou praticamente toda a
filmografia do cineasta no computador. Não é que eu não gostasse antes,
mas para um brasileiro normal, gostar de Fellini é meio que coisa de
bundão. Na boa. Quem é que entra numa locadora e pega um filme do
Fellini? Bundão metido a intelectual. Tudo bem, existem cinéfilos com
uma genuína paixão por cinema, mas tem muito mais gente que faz finta.
Porém, aqui na Itália ter assistido a todos os filmes do Fellini é coisa
normal. Por isso tive que me atualizar.
Do
que vi até agora, existem algumas verdadeiras obras primas e outros que
são um pouco superestimados. “La dolce vita”, por exemplo, é um saco.
Três horas em frente a uma tela assistindo a uma sucessão de festas dos
italianos dos anos 50 não me diz muita coisa. Até imagino que na época
pode ter sido uma sensação, mostrar que a burguesia tem a cabeça vazia e
só pensa em gastar dinheiro. Mas o filme é um saco. O próprio Fellini
consegue mostrar a mesma situação da burguesia em outro filme, “Giulieta
degli spiriti”, de forma muito mais interessante.
Mas,
olha só, já estou virando um bundão entendedor de filmes. O que eu
queria dizer com tudo isso é outra coisa, que tem a ver com um dos
filmes do Fellini, “La strada”. Belo filme. Triste uma barbaridade.
O
assunto desse texto é o desapego a coisas materiais. Há alguns dias me
dei conta de que as únicas coisas que tenho são minhas roupas, minha
guitarra, meus livros e meus discos. Mas os livros e discos estão longe,
então, de concreto, só tenho as roupas e a guitarra. O resto todo é
transitório. O que me deixa muito feliz.
Nos últimos anos tenho me
mudado tanto de casa que qualquer lugar é bom, desde o Apartamento 2 até
o sótão de Bologna, passando pela pousada da Josi em Jaraguá, a casa
dos irmãos em Joinville, mais a casa dos repórteres, depois o primeiro
apartamento de casado, de volta pra Porto Alegre.... enfim, uma vida
transitória, que me ajudou muito a descobrir o real valor das coisas.
O
filme em questão fala mais ou menos sobre isso, já que todos os
personagens são artistas de rua. Mas o conceito fica realmente claro na
fala de uma freira. “Nós mudamos de convento a cada dois anos porque
assim conseguimos nos desapegar das coisas materiais, sabemos que tudo é
transitório”. Com isso, chego à conclusão de que eu sou praticamente
uma freira, mas uma freira que bebe, fuma, transa e ouve Rock`n`Roll. Ou
seja, uma pessoa em contato direto com as divindades, mas que sabe
aproveitar a vida.
Um comentário:
Não conheço esse cineasta, mas vejo que é uma boa oportunidade para conhece-lo!. Gostei da resenha do filme, bem a lá estilo gonzo, e ainda me rendeu umas risadinhas com a piada do final!. rsrsrs. : )
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