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::txt::Monsenhor Jucá::
Entre as multifacetadas atuações artísticas de China, sem sombras de dúvidas a que o colocou sob os holofotes foi a música. Desde os tempos do Sheik Tosado, em meados dos anos 90, em plena ebulição do manguebit, que o conhecemos como músico. Depois ele teve suas andanças no cinema, na televisão (o programa Estereo Clip), no jornalismo (como colunista da nossa revista), no seu projeto musical com a galera do Mombojó (a banda Del Rey, que toca ao vivo os grandes clássicos de Roberto Carlos) e, agora recentemente, como apresentador do MTV na Brasa. Acredita-se, enfim, que é com as notas musicais que ele se sente mais em casa, embora em todas as outras áreas tenha se saído bem. Seus textos pr'O DILÚVIO sempre foram bem comentados por nossos leitores e seu programa na MTV é um dos melhores da televisão brasileira.
Vamos ao que interessa: após quatro anos de silêncio desde Simulacro, seu segundo disco solo, China retornou ontem com a novidade aguardada por muitos. Numa primeira audição rápida (em menos de 12 horas ouvi somente três vezes), não há motivos pra desapontamentos. O terceiro álbum está bem elaborado, sem enfeites em demasia, porém, há porém, com uma riqueza de detalhes que lhe confere uma sonoridade bem elegante. Os músicos convidados colaboram para esse clima. E as diversas influências que China absorveu ao longo dos anos, como a Jovem Guarda, os repentes envenenados de hardcore e o indie rock do terceiro milésimo, diluem-se aqui sem ser possível rotular o trabalho. Ou então traduzi-lo para “jóinha músiqui” através de seu inconfundível sotaque.
MotoContínuo abre com “Boa Viagem”, letra em parceria com Jr. Black em homenagem a famosa praia do Recife (“ouço o silêncio de teus tubarões”), que tem guitarras um pouco Klaxons style de André Édipo e Yuri Queiroga e com uma dupla linha de baixo formada por Dengue e Hugo Gila. “Só Serve Pra Dançar”, faixa já conhecida do público, é a que mais lembra as parcerias de China com o Mombojó (Chiquinho é um dos autores da música). Os riffs de guitarra ecoam a surf music resgatada pelos meninos no começo dos anos 2000.
“Overlock” é um dos grandes momentos do disco. A participação especial de Pitty dá o tom certo pros deliciosos solos de guitarra e pra envolvente levada da bateria de Vicente Machado. E traz um China que solta o verbo e mostra que está entre os melhores letristas da nova geração: “segure em minhas mãos/ não me deixe escapar e vamos por aí onde o perigo está”.
Na canção seguinte, “Nem Pensar em Você”, há mais sinais de letras intimistas de China: “eu preciso mesmo crescer pra te deixar no chão”. Já em “Mais um Sucesso Pra Ninguém”, que conta com a voz de Ylana Queiroga, China reclama da querida que “nunca quis ligar o rádio pra me ouvir”, uma “canção que vai morrer no ar” (aqui uma referência a ele mesmo) apesar dele dizer que ainda tem “esperança de fazer tocar essa música no seu coração”.
“Distante Amigo”, outra letra em parceria com Jr. Black, traz cuidadosos diálogos entre as guitarras a la Television e os arranjos de metais assinados por João do Cello. Já “12 Quedas” é talvez a melhor canção do álbum, na qual Lenine assina a letra juntamente com China. A música, de autoria de Bruno Ximarú, é uma delícia. Difícil rotular o estilo, há momentos que lembra a Mula Manca inspirada num Erasmo Carlos. Mas isso é uma análise muito subjetiva pra definir como certa.
Logo depois em “Terminei Indo”, Tiê empresta a voz pra adoçar a balada que não descansa “pra você dormir”. O disco segue pros finalmentes com “Programador Computador”, chega em “Espinhos” (“todo malandro tem seu dia de otário/ abra o olho o próximo é você”), música já gravada por Zé Cafofinho e termina com chave de ouro na linda “Anti-Herói”, composta somente por China e harmonizada num singelo arranjo de cordas. “Quero educar sem medo as crianças que hoje eu sou”.
MotoContínuo é um dos grandes discos de 2011! Coalé minha criança, não baixou ainda? Tomaê o download gratuito.
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