::txt::Aldir Blanc::
Meu saudoso amigo Fausto Wolff defendia a seguinte tese: corruptos são assassinos seriais, genocidas. Quando passei para o 3o- ano médico, fui para o hospital Gaffrée. Eu estava farto de quebrar pipetas, destruir lâminas, deixar cair placas a caminho da estufa etc. Queria o contato com o doente. Numa das primeiras aulas na cabeceira de um rapazola com esquistossomose, um durão do 6o- ano descreveu os sinais e sintomas, mostrou o estrago no organismo do menino e, ao explicar o ciclo do caramujo à doença, foi tomado de emoção, que dominou a custo. Desculpou-se e esclareceu:
— O rio onde ele foi contaminado está em área considerada livre do Schistosoma mansoni. Vocês sabem o que isso significa? Um político deve ter desviado a verba e o garoto vai morrer. Outros vão morrer por causa de um sujo ganancioso.
Ora, falam muito em algoritmos. Eu não entendo lhufas de matemática. A cara de meu pai ao assinar provas com notas zero me constrange até hoje. Para continuar meu raciocínio, vou citar a competente especialista em economia do GLOBO, Miriam Leitão:
“Para qualquer pessoa que vai para as ruas protestar — ou não — parece um acinte que quem escolheu entrar no negócio bancário lucre na abundância e na crise, eternamente sem punição (o grifo é meu).”
Aqui entra o tal algoritmo. Além daqueles que perderam o emprego, a casa própria, o plano de saúde, seria possível calcular quantas pessoas no mundo a ganância de Wall Street matou? Aposto que chegaríamos, ajudados pelo algoritmo, a vários holocaustos.
Por que insurgentes líbios não têm aspas nos jornais e “indignados” do movimento Ocupe Wall Street são pejorativamente marcados com elas? Assad prometeu cem afeganistãos se tentarem derrubá-lo. Um direitista comemorou o êxito da política externa americana. Título do artigo: “Barack Kissinger Obama.” Aí, um atentado matou o maior número de americanos desde a invasão. Os EUA têm uma noção estranha de “manter a situação sob controle”. Nojento ver a foto do filho de Kadhafi, fumando e bebendo água, executado logo depois, além das dezenas de corpos num quarto de hotel. Os métodos da insurgência lembram muito os de seu antecessor.
Empolgados com os movimentos libertários, os cidadãos do Forte Apache Bahrein saíram às ruas. Levaram um pau e foram em cana. E no Bahrein, não vai nada?
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