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#mandachuva
da estação Retiro para as telas do mundo
txt: Tiago Jucá Oliveira
phts e vd: Melissa Orsi dos Santos
Fim-de-semana de eleição é uma das melhores coisas que há. A melhor pedida é viajar, de preferência pra algum país vizinho, e assim fugir da farsa eleitoral. Numa dessas datas, fomos pra Buenos Aires nos alienar com cultura, gastronomia, história e arquitetura. Até um clássico entre Racing versus San Lorenzo, en El Cilindro, eu fui assistir com La Guardia Imperial. Ganhamos de 2x1.
Antes disso, resolvemos dar um pulo de trem em Tigre, ciudad vizinha a capital platina. No trilhar de volta a Buenos Aires, descemos na Estação Retiro no exacto momento de um set cinematográfico. Sem saber do que tratava a fita, e mesmo se soubesse, provavelmente seria um filme, ou clipe, ou novela ou comercial que jamais passaria no Brasil.
Então passamos a filmar e fotografar, sem demais intenções. Não colhemos muito material, não: meia penca de fotos e três pequenos vídeos, e apenas o trecho abaixo tem registro de uma ação. É o momento da cena em que os personagens Bejamin Espósito (Ricardo Darín) e Ricardo Morales (Pablo Rago) se encontram na estação. A produtora do filme já tinha chamado nossa atenção duas vezes pra gente não filmar. Na terceira vez ela vem agressiva, desesperada e impaciente, com a mão no censurar da câmera: "baje la cámara, por favor, te lo pido!"
Um ano e meio depois, "O Segredo dos Seus Olhos" é o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. E a notícia na televisão exibe justamente aquela cena da Estação. "Eu conheço esse lugar!". Gostaria que você, leitora ou leitor ou gaytor, esquecesse todo o enrolation inicial que fiz até chegar aqui pra lhe dizer: o filme é lindo, é emocionante, é engraçado, é tenso, é imprevisível. Poderia argumentar sobre o desenrolar do enredo, mas "te mo" contar o fim.
Saí chocado do cinema. Quando deitei as ideias no travesseiro, Thoreau desobedeceu o sono. Em "A Desobediência Civil", ele perguntava se devemos obedecer a determinada lei que consideramos injusta ou a nossa própria consciência. Perguntei parecido, só pra mim, mas agora pra você também: e quando a lei não cumpre o que diz, devemos fazer justiça com as próprias mãos? E devemos omitir nosso testemunho diante da vingança de terceiros?
Ainda não sei qual daqueles três pares de olhos é o mais cruel. Sei, e somente sei, que evitei o olhar do espelho antes de dormir. Há alguns segredos nesse objeto que prefiro não ver.
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