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#mãe rata conection
Lá vem ela
txt: Alexandre Lucchese
pht: Tatu 43
Goste ou não goste, Mallu Magalhães é um fato que não pode ser ignorado na música brasileira. Representante mais vistosa da Geração Y, Mallu não apenas se fez ouvir e alçou sucesso através da rede mundial de computadores: na verdade, o canto de Mallu nem existiria – ou pelo menos não seria o que é – se esse mundo não tivesse se transformado nessa massa pasteurizada e sincrônica, onde qualquer criança com um mínimo recurso digital e banda larga pode acessar Johnny Cash, Bob Dylan, Chico Buarque e boa parte do que os formou e quase tudo que deles deriva através de sucessivos cliques de mouse.
Mallu é assim. Poderia ter nascido em Porto Alegre, Brasília, Seattle, Veneza ou Arroio Teixeira que, suspeito eu, sua música não seria muito diferente do que é. E não se enganem: o que a faz brilhar não é sua precoce visão de mercado, pois isso é uma das marcas de toda essa geração que cresce sob signo da crise. Não, o que distingue Mallu de todo o resto da boiada é seu incessante e espontâneo potencial criativo – combinado, é claro, com nossa desesperada necessidade por um pouco de alegria infantil nesse cotidiano cada vez mais cinza e violento.
Mas a menina está crescendo. Prestes a fazer seus dezoito anos, seria perigosamente fácil para sua carreira insistir na busca da ingenuidade infantil que marcou seus primeiros sucessos. Desacomodada, não foi o que Mallu fez. O novo show, que estreou nesta sexta-feira no auditório do Ibirapuera, em São Paulo, tenta apresentar uma cantora madura, com visual sóbrio e arranjos musicais refinados e muito bem ensaiados.
Nada das maquiagens berrantes e pinturas no rosto, os músicos entram no palco de terno escuro, dos quais Mallu se destacava com seu descolado vestido branco. Além do quarteto baixo-bateria-teclado-guitarra, um trio de sopros engrossa o caldo. Também um quarteto de cordas apareceu para executar “É você que tem”, acompanhado do violão de nylon de Mallu. Muy hermoso.
Mas a compositora ainda não é essa performer madura. Visivelmente nervosa, esquecia o set-list, criava microfonias ao trocar de violão perto dos microfones, pedia desculpas para o público. Seria desastroso se tudo isso não fosse usado a seu favor: Mallu abre o jogo, se diz tensa, revela não estar habituada às constantes trocas de instrumento, suspira e pede coragem a si mesma ao microfone. E é aplaudida sempre que faz isso.
Marcelo Camelo entra no palco para cantar duas canções, assim como a banda Jennifer Lo-Fi. São participações sóbrias, bem ensaiadas, nada parece sair script. Depois de saída de Camelo, Mallu enxuga algumas lágrimas e segue em frente. E sozinha, consegue preencher o palco todo. Canta com sua candura característica, mas também expulsa notas aos berros, revelando saber pescar emoções profundas.
O nervosismo e os problemas técnicos não atrapalharam o espetáculo. Ao contrário, era justamente isso que o público esperava. Nada mais contemporâneo, nada mais Geração Y: a carreira de Mallu se torna aos poucos nosso reality show. Não basta vê-la brilhar no palco, queremos ver todos seus acertos e tropeços no caminho. Mais um importante passo foi dado. Agora, ela vem com tudo.
Alexandre Lucchese é jornalista e pode ser lido no blog Os Estrangeiros
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