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# repórter foca #
Marujo Barujo
txt e phts: Junior Bellé
Fala Jucá, aí vai a reportagem sobre o último habitante do território brasileiro. As fotos te envio em breve, tenho umas 10, mas o cara nao curte fotografias entao foi complicado um ângulo interessante. O texto precisa editar pois escrevi de um teclado em castellano entao faltam vários acentos. Me dá um toque pra confirmar que recebeu a matéria, se faltar algo me avise. To atrás da segunda pauta aqui no Uruguai. Abraço. Nao demore pra responder pois nao sei quando terei internet de novo depois de Montevideo.
Hasta Pronto, Junior Bellé.
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O último habitante do Brasil é fã de Judith Cortesão, há 14 anos ocupou uma antiga instalação militar e a transformou no último museu em território tupiniquim, o Atelier, que também é o último instituto, chamado Balaena Australis. Tomei um ônibus na rodoviária do Chuí, direção Barra - já no município de Santa Vitória dos Palmares -, para chegar até ele, e logo estava vasculhando os arredores do museu, observando pelos vidros os pedaços de crânio de baleias expostos em uma das galerias. Segui por uma picada ao lado do lugar e topei com a casa mais ao sul do Brasil, uma grande construção de madeira negra e teto de palha, adornada por garrafas de vidro coloridas e alguns contornos feitos de ostras. Analisava o local até ser surpreendido por um homem com jeitão de remanescente hippie, vestindo galochas pretas e toquinha de lã.
- Opa, tudo bom? Hamilton? Eu sou Junior, Seu Francisco e Dona Tânia comentaram sobre você. Esse lance de ser o homem mais ao sul do país e essas coisas todas, o casal havia dado uma carona de Rio Grande até Santa Vitória e no caminho comentaram a respeito do último artista plástico antes do Uruguai.
-Jornalista?
-Isso.
- Tem esse detalhe geográfico mesmo, comentou sem dar muita importância.
- Além de ter que agüentar repórter chato no mesmo clichê toda hora, tem algum outro fator importante em ser o cara mais austral do Brasil? Ele não respondeu, simplesmente virou as costas e me convidou para entrar no Atelier.
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- Eu não quero que minha arte entre na mesmice de sempre, de simplesmente expor em galerias, disse ele. Caminhávamos pelo instituto e Hamilton me contou sobre os shows que promove durante o verão no Marujo Barujo. E essa é a ironia etílica mais sacana da geografia brasileira: a derradeira construção em território nacional é um boteco, um bar feito de madeira e palha onde o homem mais austral do Brasil promove shows com fogueiras ao ar livre e muita bebedeira. “Da última vez veio uma banda de jazz, teve a fogueira e tudo, e tem até um lugarzinho pra dormir dentro do bar pra quem cansar”, apontou para um pequeno segundo piso, a menos de um metro da cobertura de palha.
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Ele é um artista engajado e quer distância do mainstream cultural. Ecologista um tanto ortodoxo e fissurado por pinga de buchá. “Daqui a 200 metros é o começo do Brasil”, disse ele quando nos despedimos em frente ao museu. “Ou o fim, depende do teu humor e da fermentação gástrica”, sorrimos. O próximo ônibus só passaria uma hora e meia depois, por isso decidi voltar caminhando. Nove quilômetros de Mar de Copas, enxames de varejões verdes sanguessugas e Arlo Guthrie.
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