#CADÊ MEU CHINELO?
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
TRATADO DE HAMBURGO
# agência pirata #
Google cede, Murdoch vence?
txt: Alex Primo
Ontem o Google anunciou em um blog oficial que vai mudar a forma como o Google News funciona. Após uma forte pressão dos jornais online, liderada pelo titã midiático Rupert Murdoch, o Google oferecerá a essas empresas o recurso de bloquear a leitura de mais de 5 notícias em seu agregador. A partir do sexto clique o internauta precisará se cadastrar no jornal online e pagar pelo conteúdo (se essa for a política do periódico). Esse recurso visa satisfazer os jornais que acusavam o Google de roubar seu conteúdo através do agregador Google News que, apesar de não produzir nenhum material original nem manter parcerias comerciais com empresas jornalísticas, lucra com notícias produzidas por terceiros.
Vale lembrar que Murdoch ameaçava tirar o conteúdo de todos os seus jornais das páginas do Google. Além disso, estaria assinando um acordo com o mecanismo de buscas da Microsoft Bing que passaria a repartir seus lucros com publicidade com os jornais online. Parecia uma jogada de mestre: Bing conquista conteúdo jornalístico que sumiria das páginas do Google. Murdoch e Microsoft juntos em defesa dos lucros das velhas empresas jornalísticas. "Ai, que meda!!!"
A Declaração de Hamburgo, apoiada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) e por jornais como o Estadão e O Globo, defende que a propriedade intelectual do conteúdo criado e veiculado por jornais precisa ser respeitada. Encontre abaixo um resumo da declaração estampada no site do Estadão (será que esse jornaleco vai me processar pela reprodução abaixo?):
"A internet é uma grande oportunidade para o jornalismo profissional - mas apenas se mantiver o equilíbrio econômico-financeiro das empresas jornalísticas nos novos canais de distribuição digitais. Não é o que acontece atualmente.
Vários agregadores de conteúdo utilizam obras de jornalistas, editores e empresas jornalísticas sem pagar por este uso. No longo prazo, esta prática põe em risco a criação de conteúdos de alta qualidade e o próprio jornalismo independente.
Por este motivo, precisamos melhorar a proteção da propriedade intelectual na internet. O acesso livre à web não significa necessariamente acesso livre de custos. Discordamos dos que afirmam que a liberdade de informação só será obtida com todos os conteúdos gratuitos.
O acesso universal aos nossos serviços deverá estar disponível, mas não queremos ser obrigados a ceder a nossa propriedade sem autorização prévia.
Assim sendo, consideramos necessárias e urgentes medidas para a proteção dos direitos autorais de jornalistas, editores e empresas jornalísticas na internet.
Não devem existir zonas da internet onde as leis não se aplicam. Os governos e legisladores, em nível nacional e internacional, devem proteger mais eficazmente os conteúdos intelectuais dos autores e produtores. Deve ser proibida a utilização, sem prévia autorização, da propriedade intelectual de terceiros.
Em última análise, também na rede mundial de internet deve valer o princípio: não há democracia sem jornalismo independente."
A cobrança pelo conteúdo jornalístico online veiculado nas páginas do Google, para Marcelo Träsel, será um suicídio editorial, tendo em vista que boa parte do tráfego de jornais online iniciam naquele mecanismo de busca e em seus agregadores de conteúdo. Diz ele, "Ao tentarem cobrar das ferramentas de busca por esse serviço público, as empresas estão sequestrando um patrimônio público [o acontecimento em si], impedindo que os cidadãos tenham acesso à sua história". Irônico, Träsel alfineta:
"...para eles as ferramentas de busca devem pagar para levar leitores aos jornais, porque lucram veiculando anúncios junto aos resultados de buscas. É engraçado, mas não há registro de alguma empresa de mídia propondo dividir os lucros dos anúncios em rádio, jornal e televisão com os entrevistados que fornecem matéria-prima para as notícias com o sacrifício de seu precioso tempo. Aliás, o entrevistado em geral tem de se deslocar até o estúdio por conta própria e muitas vezes não recebe nem um cafezinho."
Tiago Dória, por sua vez, lembra que não estamos querendo roubar o conteúdo editorial. Estamos doando minutos de nossa valiosa atenção. Logo, em um mercado de abundância, será que as tradicionais estratégias de monetização dos jornais impressos podem fazer sentido na internet? Quem sabe o Murdoch dá uma lida no livro Free? Espero que Chris Anderson cobre bem caro por essa cópia do livro enviada para o dono da News Corporation.
Para que a cobrança por conteúdo em jornais online funcionasse, todos, eu disse TODOS, aqueles sites precisariam se fechar. O problema é que se um ou outro mantivessem o acesso aberto e gratuito, esses jornais online "furões" ganhariam imensa vantagem competitiva. Como hoje as notícias em diferentes jornais estão cada vez mais iguais, a "técnica jornalística" padronizou os textos, por que vou pagar por um conteúdo que posso encontrar em outro lugar?
Por outro lado, a análise bem escrita, o jornalismo investigativo e colunistas que tem o que dizer tem um valor diferenciado. Confesso que não me nego a pagar por conteúdo "premium". Em um mercado de abundância, um bom articulista é um produto raro e, sabemos, caro. Quem quiser um aprofundamento, uma análise crítica bem embasada e investigada, aí sim poderia decidir se quer pagar por esse material. Enquanto isso, o jornalismo medíocre pode ficar aí ao lado batendo boca, querendo lucrar muito com suas mesmices.
Pode-se entender que esse movimento do Google representa uma pequena vitória de Murdoch e seus seguidores. Mas não creio que seja uma grande vitória para o jornalismo e para seus leitores. O mundo mudou e assim também seus mercados. Como sou um otimista, creio que esses flancos abertos abrem oportunidades para novos players (desculpem, odeio esse palavreado)... mais criativos e ousados.
Enquanto isso, o Murdoch, e seus cãezinhos do Estadão e O Globo, devem estar pensando em como cobrar de nós que compartilhamos no Twitter links para seus jornais online. Quer saber, acho que deveríamos criar um boicote: não envie gratuitamente links no Twitter e em seu blog para esses jornalecos que assinam o Tratado de Hamburgo. Cobre por cada link e o tráfego que você gera para sites jornalísticos!
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Um comentário:
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