#CADÊ MEU CHINELO?

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

[do além] PALAVRAS POR ORDEM



::txt::Charles de Gaulle::

Andei lendo sobre o conflito entre os estudantes da USP e a Polícia Militar e cheguei à conclusão de que eu não tenho sorte mesmo. Quando enfrentei a crise de maio de 68, não tive a opinião pública do meu lado. Depois que os estudantes ocuparam a Faculdade de Nanterre, nos arredores de Paris, para protestar contra a sociedade de consumo e o ensino tradicional, fiz uso da força e tornei-me, logo eu, impopular.

A tentativa de sufocar aquele arroubo juvenil tomou grandes proporções. Nos dias seguintes, o conflito estendeu-se a outros setores. Mais de 10 milhões de trabalhadores entraram em greve. Os protestos tomaram conta do país, novos conflitos e enfrentamentos com a polícia pipocaram por toda parte. As instituições tremeram, por um triz não entramos em guerra civil. Cheguei a ponto de declarar a situação incontrolável e propor um referendo. As ruas estavam tão barulhentas que ninguém escutou. Não me restou alternativa senão dissolver a Assembleia e convocar eleições legislativas para junho. Meu partido venceu o pleito, mas no ano seguinte amarguei uma derrota no referendo sobre a regionalização e reforma do Senado. Fiquei désolé, pedi demissão e retirei-me da política. Foi uma saída melancólica para uma carreira triunfante.

A minha falta de sorte fica mais evidente quando se compara às verbalizações do pensamento de cada período. Aliás, as barricadas de Paris foram pródigas em slogans libertários. Maus tempos aqueles em que não havia redes sociais para chamar os protestantes de baderneiros mimados.

Outra diferença entre maio de 68 em Paris e outubro de 2011 na USP é que as frases de protesto antes eram gritadas e pixadas pelos estudantes. Agora elas vêm da sociedade e da imprensa. Ontem, palavras de ordem. Hoje, palavras por ordem. Acompanhe só:



Maio 68

"É proibido proibir"

USP 11

"É proibido"



Maio 68

"Sejam realistas, exijam o impossível!"

USP 11

"Sejam realistas”



Maio 68

"A imaginação ao poder"

USP 11

"A imaginação? Ah, vai se f..."



Maio 68

"O patrão precisa de ti, tu não precisas dele"

USP 11

“O patrão precisa de ti amanhã bem cedo”



Maio 68

"Revolução, eu te amo"

USP 11

“Revolução, eu conheci outra pessoa”



Maio 68

"Abaixo a universidade"

USP 11

“Me abaixo pra universidade”



Maio 68

"O sonho é realidade"

USP 11

“O sonho, em realidade, é sonho”



Maio 68

"O sagrado, eis o inimigo"

USP 11

“Consagrado, eis o nosso amigo”



Maio 68

“Nós somos todos judeo-alemães"

USP 11

“Nós somos todos alemães"



Maio 68

"Acabareis todos por morrer de conforto"

USP 11

“Acabareis todos por morrer de conforto. Deus te ouça”

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

[agência pirata] USP: ENTRE O CAPUZ E O CAPACETE



::txt::Eugênio Bucci::

Há dois anos e meio, em 18 de junho de 2009, escrevi neste mesmo espaço um artigo sobre a Universidade de São Paulo (USP): O atraso no espelho. Poucos dias antes, a Cidade Universitária virara uma praça de guerra, ou quase. Com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, policiais haviam dissolvido uma passeata de estudantes e funcionários, que também não eram lá tão pacíficos. Ali ficou patente que a USP mergulhara num déficit de representatividade e de legitimidade, que abria campo para o recrudescimento da violência.

O déficit de representatividade expressava-se nos movimentos sindicais da universidade. Tanto o Diretório Central dos Estudantes (DCE) quanto o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), incapazes de mobilizar grandes contingentes entre seus presumíveis filiados, apostavam em ações supostamente radicais. Para propagandear suas reivindicações ocupavam gabinetes oficiais na base de piquetes que se valiam intimidações físicas. De outro lado, o déficit de legitimidade já era notório nos órgãos de poder da universidade, que estavam distantes do conjunto da comunidade, que não os reconhecia como interlocutores.

O atraso espelhado - um movimento sindical pouco representativo contra órgãos de poder pouco legítimos - deu no que tinha de dar: um ambiente desprovido de pontes institucionais de diálogo, no qual a força bruta substitui o debate.

Infelizmente, o quadro não mudou até hoje. A crise de representatividade e de legitimidade continua. O resto é sintoma. O debate sobre a presença da Polícia Militar (PM) dentro do câmpus era e é sintoma. A celeuma sobre o consumo de drogas pelos estudantes, também. A base profunda do mal-estar reside na inexistência de instâncias acadêmicas e administrativas que deem conta de resolver as interrogações que a vida universitária suscita naturalmente. O problema da USP não é tanto de autonomia jurídica, mas de autonomia intelectual: ela não dispõe dos meios institucionais para pensar e para resolver os desafios que ela própria produz em sua rotina. Como uma criança, precisa chamar o irmão mais velho na hora do aperto, tanto para fazer piquete como para afastar o piquete.

No final de 2011, temos um remake piorado do mesmo filme de 2009. No dia 27 de outubro, policiais tentaram deter estudantes que portavam maconha. A reação dos colegas foi imediata e barulhenta. Em questão de 48 horas, o velho roteiro de crise foi posto em marcha, incluindo a previsível e indefectível invasão da Reitoria. Desta vez, porém, com um déficit de representatividade ainda mais grave. A proposta de ocupação tinha sido rejeitada pela assembleia do DCE, mas a minoria que perdeu a votação manobrou o resultado: após o encerramento da assembleia, quando muitos estudantes já tinham ido embora, reinstalou às pressas a mesma assembleia - esvaziada - e, só aí, conseguiu aprovar o que queria. A ocupação ocorreu. Ato reflexo, a opinião pública voltou-se contra o movimento estudantil, que apareceu na foto como birra de gente mimada que quer fumar maconha na santa paz.

Na semana passada, quando 400 policiais, dois helicópteros, além de cavalos, desalojaram e indiciaram os 73 jovens que se encontravam acampados no prédio principal da USP, o quadro inverteu-se. A ação da PM efetivamente devolveu a Reitoria ao reitor, mas, inadvertidamente, devolveu o ânimo ao movimento estudantil. As assembleias lotaram, várias faculdades entraram em greve e, dessa vez, os mesmos estudantes que reprovavam a invasão passaram a condenar com veemência a ação dos policiais. Não porque estes se tenham excedido em maus tratos, o que não ficou provado. A revolta contra a presença dos policiais tem uma razão mais sutil: a comunidade universitária sente-se humilhada quando um excesso estudantil é removido por uma ação policial que lembra essas operações de combate a motim de presídio.

Aliás, quando eclode um motim entre presidiários, o pessoal de direitos humanos é chamado para tentar negociar uma solução antes da entrada da tropa. Na Cidade Universitária, nem isso houve. Que a PM patrulhe o câmpus com o objetivo de proteger a vida dos que ali estudam e trabalham pode até ser, mas chamar o batalhão para resolver manifestações políticas, sem que se esgotassem outras tentativas de mediação, isso é humilhante.

É verdade que o figurino adotado pelos invasores da Reitoria colaborou para que a crise da USP assumisse um visual de presídio amotinado. Com o rosto coberto, eles se achavam fantasiados de manifestantes antiglobalização da Europa, mas estavam ainda mais parecidos com presidiários do PCC e com traficantes, o que eu mesmo tive chance de dizer aos alunos numa aula aberta que fiz na quinta passada nos jardins da ECA. O capuz foi um erro estético, resultante do erro ético de afrontar uma decisão de assembleia. Do mesmo modo, os capacetes e escudos da PM foram um erro de método, este decorrente da ausência de instâncias de interlocução interna. Uma universidade que não dialoga é uma universidade que se bate, mais do que se debate.

Em síntese, de 2009 a 2011, a USP não deu um passo para a frente nem um passo para trás: deu apenas um passo para baixo, afundou-se no buraco em que se encontra encravada. Para onde ir agora?

Do ponto de vista das entidades de professores, alunos e funcionários, a palavra de ordem é a renovação completa das chapas, das bandeiras e dos métodos. As maiorias precisam entrar em cena, precisam falar. Só assim poderão desautorizar as minorias que acreditam mandar no grito. Quanto às instâncias oficiais da USP, precisam da mesma renovação, o que pode incluir até mesmo consultas à comunidade para a escolha de diretores e reitores. Aí, o diálogo poderá encontrar lugar institucional na vida acadêmica - e só o diálogo institucional pode esvaziar a violência e libertar a universidade.

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