::txt::Copérnico::
Já experimentou dizer a uma pessoa que se julga superimportante que ela não é o centro do universo? Difícil, né? Agora imagina dizer isso ao mundo. Pois é, não foi nada fácil explicar às pessoas que a Terra era apenas mais um planeta que girava ao redor do Sol, ainda mais pra mim que sou de Peixes.
Ninguém queria se convencer de que nosso lar não era o Astro-Rei. No máximo, éramos a Wanderlea do sistema solar. Em suma, minha constatação foi vital para o progresso da ciência, mas acabou por deprimir a todos.
Antes de minha descoberta, vejam vocês, as pessoas atribuíam-se uma importância imensurável. Muitos acreditavam que só chovia porque eles colocavam o carro para lavar. Outros juravam que se usassem uma específica peça de roupa, seu time favorito triunfaria.
Meu modelo cosmológico, em que os corpos celestes giram ao redor do Sol e não da Terra, demorou a ser aceito. A Igreja Católica chegou a proibir a divulgação de minha teoria. Ninguém queria aceitar nossa insignificância. Na época, tentei até organizar uma parada do orgulho terráqueo para diminuir os efeitos colaterais produzidos por minhas ideias.
Bom, felizmente hoje o heliocentrismo é considerado como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, rivalizando apenas com a teoria de que o disco Dark Side of The Moon do Pink Floyd serve de trilha sonora perfeita para as cenas inicias de O Mágico de Oz. Já experimentou? Funciona até de cara.
Agora que já nos recuperamos do primeiro choque narcísico da história, posso revelar outra verdade inconveniente. Mais do que aquela que Al Gore usou pra se promover naquele documentário. Creio que outra vez quebrarei a espinha dorsal de nossa já combalida estima. Mas não posso fugir ao meu dever de, sempre que possível, baixar o astral da humanidade.
Dito isso, vamos a nova revelação. Rufem os tambores (pausa). A Terra está perdendo sua forma esférica e está se tornando cada vez mais chata. E numa velocidade estonteante. Aqui relaciono, com rapidez e nenhum esforço, algumas evidências. Acompanhe:
Concertos de rock agora são sustentáveis.
Exigem-se dos estudantes propósitos claros para protestar.
Humor infantil e desbocado é tratado como politicamente incorreto.
Vinho virou conversa pernóstica em vez de bebida.
Conhecer pessoas agora é fazer networking.
O cinema só se interessa pelas crianças e adolescentes.
Viagens são chamadas de experiência.
Novelas precisam parar suas tramas para acomodar um pouco de temática social.
Vestir-se descontraidamente virou algo que demanda tempo, dinheiro e estudo.
Nesse ritmo, entraremos 2012 por debaixo da porta.
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