::txt::Tiago Jucá Oliveira::
Você aí da poltrona já imaginou que alguns sapos pudessem ser a inspiração para determinado cantor? Porém, há porém, não estamos nos referindo a letras de músicas que falam sobre sapos (e nenhum desses sapos é o barbudo neocoronelista) . O personagem em questão é Jackson do Pandeiro, que aperfeiçoou o modo de interpretar seus cocos ouvindo os sapos cantarem no rio que havia perto de sua casa em Alagoa Grande, no agreste da Paraíba.
Há alguns anos a editora 34 lançou a biografia de “Jackson do Pandeiro: O Rei do Ritmo”, escrita por Fernando Moura e Antônio Vicente. Os dois lembram que quando Jackson gravou a hoje famosa “Cantiga do Sapo”, em meados dos anos 70, “a inspiração partiu das lembranças infantis na terra natal: ‘é tão gostoso morar lá na roça/ numa palhoça perto da beira do rio’. O coaxo da sapataria uma verdadeira ‘toada improvisada em dez pés resultou no popular refrão: ‘Tião?/ oi!/ fosse?/ fui!/ comprasse?/ comprei!/ pagasse?/ paguei!/ me diz quanto foi?/ foi quinhentos réis...’
A editora 34 vem se destacando no mercado editorial brasileiro como uma das poucas e raras editoras que promovem o estudo da música popular, ao abordar diversos segmentos diferenciados. Nesse contexto está a biografia do rei do ritmo, pois ela nos sugere alguns casos para ressaltar a influência de sapos na obra do artista. Detalhes que talvez sejam pequenos demais, se comparados a grandeza de seu fruto cultural.
Em 1977, quando grava ‘Vem Cá, Maria’, de Dominguinhos e Durval Vieira, cujo tema envolve um outro sapo que vivia debaixo da pia, namorando e dando ‘beijoca na boca da jia’, Jackson intervém no final da música – como fez em quase tudo que cantou – e lança mais uma pista sobre suas recordações de infância: ‘ah, sapinho enxerido, miserave... Me lembro do rio de Alagoa Grande, naquela cheia, que eu era moleque, o sapo se grudava na cacunda da sapa, dava um trabalho da bexiga...’
José Teles, jornalista pernambucano, autor do livro “Do Frevo ao Manguebeat”, também lançado pela editora 34, qualifica Jackson como um “excepcional cantor, cuja influência no canto brasileiro ainda precisa ser devidamente avaliada”. O autor encerra dizendo que “não seria exagero afirmar que os três cantores mais influentes na formação do canto popular brasileiro urbano foram Orlando Silva, João Gilberto e Jackson do Pandeiro”.
Para finalizar este breve ensaio, outra vez vamos buscar as palavras de Fernando e Vicente que melhor definem a importância das cantigas de sapos sobre o modo xuxu beleza de cantar de um dos artistas mais folclóricos da música brasileira. Os biógrafos de Jackson entendem que, ‘ao sair de Alagoa Grande, ganhando o mundo com sua voz, ele teria levado presos em suas cordas vocais todos os timbres, onomatopéias e nuances sonoras dos sapos do lugar. Daí sua capacidade inigualável de divisão rítmica, usando e abusando das síncopas com a naturalidade da fauna brejeira que
conhecera quando criança”.
*este texto está sob Domínio Público. Nenhum direito reservado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário