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Juarez Porto ::
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Maurício
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não!eu
vos juro, não era um templo de deuses.nem céu nem inferno.nem lar,
nem luz.não era tampouco um palácio.não era Terra.não era
espaço.não era sonho.nem mesmo um jardim.era um lugar vulgar.de uma
cidade vulgar, onde habitavam pessoas também vulgares.não.vos juro,
não estou louco.ou sim?jamais se pensou fazer dali, instituição ou
fé.era apenas uma rua comum, não, não se pode chamar aquilo de
rua...era uma esquina...uma simples, normal, boba esquina.três
bares, não, eram quatro...edifícios, a tabacaria (não a do Pessoa,
outra)...a farmácia, pela tela da fruteira, eu roubava bananas...as
laranjas...na esquina.um acidente geográfico urbano, cuja ironia dos
tolos convencionou chamar Esquina Maldita.acreditem, vos peço, em
minhas suaves lembranças.era sómente um refúgio onde, abraçados
na noite, tudo se dizia.tudo acontecia.havia também o garçom de
nome elias.não, minto, elias era outro, este chamava-se issac.nome
bíblico...bom sujeito...isaac!a minha brahma!isaac uma coca!isaac a
torrada!a caipa!e seu nome voava sobre as ruas, o parque, as casas e
ia esconder-se nas águas mansas do rio.estranhas gentes
aquelas!riam.bebiam.fumavam.choravam.viviam.ah, os tempos da
esquina!...não sei se foram bons ou maus, se estávamos cansados se
tínhamos ilusões ou se era mesmo desespero.sim, talvez fosse um
lugar triste.mas quem sabe éramos mesmo felizes?não sei o que
pensar, nunca soube...o povo da esquina?eram tantos...tantos nomes e
caras, tantas vontades e vozes.lembro-me da nêga lu, a nêga mais
nêga do sul do equador, pecaminosa criatura, homem-mulher, como deve
ser toda a divindade.suas gargalhadas ainda ecoam nas noites de luar,
naquela esquina.os nomes...os nomes...os fantasmas malditos das
madrugadas passadas.não sei.náo lembro.eram muitos...beto (ah,
velho amigo!), verinha, doce verinha...renato, ricardinho,
rosana...zimpeck...os goulart, três irmãos, três rumos virgínia,
crescente, khátia. Gente!GENTE! quantos.quantos desaparecidos...não,
não sei.eu os vi passar pela esquina, dobraram na avenida, e sumiram
nas sombras do tempo.juro que não enlouqueci, não minto não...nem
pensam que é uma lenda, é verdade, existiu a esquina maldita.eu
vi...
....
Bar Alaska nos anos 1960 |
....
Garçom
estou a morrer.
Não me
fale de vinhos.
Eu não
devo adormecer.
Um poema
por noite
É o que
eu quero beber.
Enquanto
espero alguém
Eu preciso
escrever
um verso
pela emoção...
A cadeira
fica mais dura
cada
instante de solidão.
Meus olhos
congestionados
não
reconhecem os amigos,
em
bebedeira afogados.
Das
portas? abertos os postiços.
No ar
pairam nuvens de fumaça.
Nos
corações nuvens de melancolia.
Inventamos
um jogo sem graça
e
divertimo-nos com hipocrisia.
Correm os
ponteiros do relógio.
Desesperado
devoro um bauru.
Bêbado de
carne e pão concluo:
SOFRER DE
BARRIGA CHEIA É MAIS FÁCIL.
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