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sexta-feira, 24 de abril de 2009

JOÃO GATO

# a arca de noé #
O incrível animal que ensinava matemática

txt: Jucazito
ilstrç: Henrique Bittencort

“Eu adoro a democracia, sou um professor democrático: eu mando, vocês obedecem”. Assim João Gato miou na primeira aula do sétimo livro, lá no Ginásio. O professor era quase tudo que um professor não poderia ser. Bom de copo, Gato trazia pra aula o bafo da noite. Um fedor de ceva. Muita ceva. Muito fedor. Diz a lenda que numa mañana de carnaval ele sentou no bar do Batata Palha e só vazou após beber 48 cervejas, no dia seguinte.

Além do cheiro de bira, somava-se e multiplicava-se o fedor de crivo. Filtro vermelho. “Dois maços de oliú por dia”. João fumava feito cão, melhor, feito gato. Inclusive na sala da aula. Ninguém reclamava. Nem as freiras. As gatinhas sofriam mais. João era todo carinhoso com elas. Parava do lado de uma, alisava o cabelo com as mesmas mãos que aparava seus espirros, encostava a cabeça dela naquele imenso barril de chopp que ele chamava de barriga e ficava ali, no gozar democrático.

Se as gatinhas sofriam com o assédio e fedor, as ratinhas feiosas e os urubus malandros sofriam com o mau humor do Gato. A vítima mais constante era o Vareta, vulgo Alex. Aquele tipo de aluno que não sabia nada, a não ser falcatruar a prova pra não repetir de ano. Mas quando o professor o chamava para o quadro negro, ficava difícil enganá-lo. Certo dia, Vareta foi ao quadro resolver uma equação. Notando que a conta não ia adiante, João Gato foi mostrando a ele o caminho da roça. “Soma aqui, multiplica ali, isso, vinte e cinco”. Vareta finalizou feliz da vida. João dava risada: “Tudo errado”. “Mas o senhor disse que era assim”. O professor deu sua lição de moral: “Quando eu era pequeno e tinha um gatinho, ensinei ele a não comer. Dois dias depois ele morreu”.

Apesar da cerveja, do cigarro, da brabeza, dos espirros, da pança de fora e da moléstia nas gatas, João era um excelente professor. A aula era dividida em dois períodos: antes e depois do recreio. No primeiro ele ensinava e passava as tarefas, no segundo ele roncava enquanto a gente ria bem baixinho no calcular das contas. Mas aquela pérola de professor democrático, “eu mando, vocês obedecem”, é impossível esquecer. Assim são nossos governantes.

11 comentários:

  1. Oi pessoal...adorei este texto...pois vivenciei tudinho q está escrito aí, hehehehhe...apesar de tudo tenho saudades...das aulas, das brincadeiras, dos colegas...mas não da matemática, hahahaha. Abração a todos!

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  2. Prezado Tiago,

    Tua reportagem contando algumas histórias sobre o prof. João “Gato” foi fascinante. Há muitas histórias para contar sobre ele. Apenas quero lembrar-te que ele tinha uma inteligência extraordinária. Suas técnicas didáticas para o ensino-aprendizagem até podem ser questionadas por alguém, mas a eficácia do processo é inquestionável. Ex.: quando me preparava para o vestibular, não precisei nem revisar alguns assuntos, como trigonometria, geometria plana e espacial, etc.
    Congratulações a todos os professores da saudosa Escola Estadual de 1º e 2º Graus Pereira Coruja, base sólida do que somos hoje.

    Um grande abraço do sempre amigo, Guahyba.

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  3. Guahyba, grande Adriano, como vai o amigo? obrigado pelos elogios e concordo com você, o Gato era um excelente professor, sabia como poucos, como foi dito no final do texto: "Apesar da cerveja, do cigarro, da brabeza, dos espirros, da pança de fora e da moléstia nas gatas, João era um excelente professor."

    Daniela, sem sobrenome não sei quem é (Alvim?), mesmo assim, obrigado!

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  4. Sim, Daniela Alvim. Quem escreveu o texto foste tu Tiago? Abraço

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  5. isso, fui eu mesmo. td bem por ae? abz!

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  6. Só fui conhecer pessoalmente o "incrível" João Gato, em aula, no final do antigo segundo 2º grau. Mas sua fama já era enorme. Mesmo assim, tão chocado quanto presenciar aquela figura em aula, o trato com as gatinhas, o ronco, sentado, de braços cruzados e o "ranho" no canto da barba; foi percebar a jutileza, a forma como ele conseguia fazer aqueles "metidos" do 3º ano, aprender fazer contas. Às vezez imagino que fora muita inteligência disperdiçada, mas era assim que ele era feliz e, talvez por causa disso, a gente está aqui, matando saudades dele, daquele tempo. O João, o Gato, não merece apenas um texto, merece um livro.

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  7. Tiago, por aqui tudo bem sim...espero que por aí também!!!!
    Manico, concordo contigo, acho q o João Gato mereceria um livro. Hoje em dia ele mora aqui em Tk, com uma família de cumpadres que o acolheram. Eu o vejo quase diariamente, confesso que é uma cena um pouco chocante, pois ele está numa cadeira de rodas e bem magro. Mesmo assim, eu sei que ele ainda dá muitas ordens, heheheh. Abraço amigos!

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  8. grande Manico, massa te ver por aqui. é vero, merece um livro, iria ser engraçado. Daniela, não sabia que ele estava assim, dificil imaginar. Abração pra vcs dois!

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  9. Grande professor e ótimo de mira(com o giz). Foi o 1º "vesgo" que eu vi,não com a bola,e sim com o giz.
    Costumava,após espirrar,guardar a mão no bolso,com o que tivesse dentro.
    Apesar de tudo,uma grande pessoa.
    Abraços de um Campeão de Tudo,assim como nosso saudoso João Gato.

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  10. Bah gente ...pura verdade. Faço minhas as palavras do Manico e do Guahyba.

    Abraços a todos e parabém pelo texto..

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  11. Não sei porque mas o texto não está aparecendo no blog, está com a mesma cor do fundo - tudo preto. Eu só consegui ler porque selecionei todo o texto.
    Ontem meu irmão falou do João Gato, e fui procurar na internet. Um abraço a todos.

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